sábado, 16 de junho de 2012

A dilatação do Homem.

A QUESTÃO DO SER OU NÃO SER

A famosa frase de William Shakespeare encobre tantos sentidos, entretanto, poucos, muito poucos, percebem o seu profundo significado.

A primeira dificuldade “ser ou não ser, eis a questão; se é mais nobre ao espírito suportar as pedradas da sorte ultrajante ou se opor a um mar de percalços e vencê-los”.

Em outras palavras, é melhor se conformar com o que somos e/ou temos, ou enfrentar as diversidades conscientemente. Entretanto, diante de uma ou outra opção enfrentaremos o mar de percalços, isto é, pagaremos “seu preço”, o preço da crise existencial de ter que escolher as conseqüências da decisão tomada.

Uma segunda dificuldade se encontra na própria estrutura da língua. Nessa perspectiva, não seria correto dizer: “Eu sou professor”, mas sim, “eu estou professor”, pois estou diante de uma circunstância, no caso, ministro aulas, entretanto, em casa, estou pai, marido, etc.. Portanto, estou no papel de professor. O ser é algo mais profundo.

Temos um exemplo bastante instrutivo em nossa contemporaneidade na música “Ouro de Tolo” do Raul Seixas: “eu devia estar contente, pois sou um cidadão respeitável e ganho 4000 cruzeiros por mês”, “... eu devia estar contente, pois comprei ...” O cantor critica a fragilidade do “estar” substituindo o “ser”.

O DRAMA DA ESCOLHA

Ser ou não ser, eis a questão. Realmente é a questão. O grande dilema humano. Não se consegue ficar neutro, temos a escolha. Escolha difícil: sermos a própria essência oculta em nós ou nos conformarmos à vontade dos outros, guiarmos nossas vidas pelo “eu quero” da própria alma ou pelo “tu deves” da sociedade? Sermos dirigidos pela cabeça ou pelo coração?

O homem é espírito, mas o Eu não é espírito! Quem é o Eu? Finito e Infinito, Temporal e Eterno.

Dessa forma, o desespero é o conflito entre o que é eterno e o que é temporal! Entre a Alma e o corpo, Entre os desejos e a obediência, entre o que vemos e o que cremos, entre o esperado e o visualizado. O Desespero é o momento de conflito onde o homem encontra-se momentaneamente indeciso entre o agir e o pensar.

Tanto o homem natural quanto o Cristão entram em desespero, contudo, o cristão o faz com consciência do que realmente é eterno e o homem natural desespera-se pelo seu conhecimento cotidiano.
O CONSUMO DO DESESPERO

O desespero pode nos levar a caminhos diametralmente opostos:

“Ou sou César ou nada”. Mas ao não conseguir ser César, desespera-se por não suportar ser ele mesmo! Já não suporta o próprio “ser”, desespera-se por ser quem é, e busca ansiosamente livrar-se de si mesmo. O que ele não suporta, não é o fato de não ter-se tornado César, mas de não ter conseguido livrar-se de si mesmo.

Contudo, na realidade, ele não tornar-se-ía ele mesmo ao se tornar César. Este conflito interno não é o verdadeiro desespero, mas sim seu início...

Não conseguindo assim, movimentar-se em direção da mudança, do “vir-a-ser” um indivíduo de sua própria invenção. Isso leva o indivíduo a criar um escudo diante de si, pois uma das suas maiores ilusões, já que ele vive num mundo de pura fantasia é: "SE O MUNDO À MINHA VOLTA MUDAR EU TAMBÉM MUDO". Ele afirma quase que constantemente: "Se tivesse à inteligência de fulano ou as riquezas de beltrano, tudo seria diferente". Ele não consegue se ver como o gerente das circunstâncias da sua própria vida.

Por quê? Porque, o seu olhar não está voltado para si mas para o outro. Kierkegaard afirma: "ninguém pode ver-se a si próprio num espelho, sem se conhecer previamente, caso contrário não é ver-se, mas apenas ver alguém”.

É disso que o homem natural se desesperado, de si mesmo.

Embora a grande maioria dos seres humanos permaneça na “periferia de si mesmo”, acreditando que a existência consiste em buscar o prazer e evitar a dor, chega um momento na vida de todos nós que se descobre que a vida não é apenas isso.

A Ação do Espírito Santo sobre nossas vidas... É disso que o homem natural se sente desesperado, de si mesmo. Segundo Deus, todos são indesculpáveis, pois a consciência do erro, do pecado, da queda, está por demais arraigada a vida do homem natural, de modo que este se desespera para a perdição, pelo fato não estar consciente do seu eu Temporalidade e Eternidade, num mesmo ser, deixando que o que é temporal guie sua vida, e por fim quando tomar ciência da verdade maior por detrás dos dias terrestres, só lhe restará uma consciência desesperada acusando-o por toda a eternidade, como um verme imortal e fogo inextinguível a consumi-lo em seus próprios pensamentos que nunca o deixaram pela eternidade, de eternidade em eternidade.

A Doença Mortal é um mal cujo fim gera a morte... Não a morte conhecida em partes pelo homem natura e temida por ele, mas a morte conhecida pelo cristão, todavia, infinitamente superior ao conceito de morte estabelecido pelo homem natural, morrendo para a eternidade, de eternidade em eternidade..

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