A dilatação do Homem.
A QUESTÃO DO SER OU NÃO SER
A
famosa frase de William Shakespeare encobre tantos sentidos, entretanto,
poucos, muito poucos, percebem o seu profundo significado.
A primeira dificuldade “ser ou não ser, eis a questão; se é mais nobre
ao espírito suportar as pedradas da sorte ultrajante ou se opor a um mar
de percalços e vencê-los”.
Em outras palavras, é melhor se
conformar com o que somos e/ou temos, ou enfrentar as diversidades
conscientemente. Entretanto, diante de uma ou outra opção enfrentaremos o
mar de percalços, isto é, pagaremos “seu preço”, o preço da crise
existencial de ter que escolher as conseqüências da decisão tomada.
Uma segunda dificuldade se encontra na própria estrutura da língua.
Nessa perspectiva, não seria correto dizer: “Eu sou professor”, mas sim,
“eu estou professor”, pois estou diante de uma circunstância, no caso,
ministro aulas, entretanto, em casa, estou pai, marido, etc.. Portanto,
estou no papel de professor. O ser é algo mais profundo.
Temos
um exemplo bastante instrutivo em nossa contemporaneidade na música
“Ouro de Tolo” do Raul Seixas: “eu devia estar contente, pois sou um
cidadão respeitável e ganho 4000 cruzeiros por mês”, “... eu devia estar
contente, pois comprei ...” O cantor critica a fragilidade do “estar”
substituindo o “ser”.
O DRAMA DA ESCOLHA
Ser ou não
ser, eis a questão. Realmente é a questão. O grande dilema humano. Não
se consegue ficar neutro, temos a escolha. Escolha difícil: sermos a
própria essência oculta em nós ou nos conformarmos à vontade dos outros,
guiarmos nossas vidas pelo “eu quero” da própria alma ou pelo “tu
deves” da sociedade? Sermos dirigidos pela cabeça ou pelo coração?
O homem é espírito, mas o Eu não é espírito! Quem é o Eu? Finito e Infinito, Temporal e Eterno.
Dessa forma, o desespero é o conflito entre o que é eterno e o que é
temporal! Entre a Alma e o corpo, Entre os desejos e a obediência, entre
o que vemos e o que cremos, entre o esperado e o visualizado. O
Desespero é o momento de conflito onde o homem encontra-se
momentaneamente indeciso entre o agir e o pensar.
Tanto o homem
natural quanto o Cristão entram em desespero, contudo, o cristão o faz
com consciência do que realmente é eterno e o homem natural desespera-se
pelo seu conhecimento cotidiano.
O CONSUMO DO DESESPERO
O desespero pode nos levar a caminhos diametralmente opostos:
“Ou sou César ou nada”. Mas ao não conseguir ser César, desespera-se
por não suportar ser ele mesmo! Já não suporta o próprio “ser”,
desespera-se por ser quem é, e busca ansiosamente livrar-se de si mesmo.
O que ele não suporta, não é o fato de não ter-se tornado César, mas de
não ter conseguido livrar-se de si mesmo.
Contudo, na
realidade, ele não tornar-se-ía ele mesmo ao se tornar César. Este
conflito interno não é o verdadeiro desespero, mas sim seu início...
Não conseguindo assim, movimentar-se em direção da mudança, do
“vir-a-ser” um indivíduo de sua própria invenção. Isso leva o indivíduo a
criar um escudo diante de si, pois uma das suas maiores ilusões, já que
ele vive num mundo de pura fantasia é: "SE O MUNDO À MINHA VOLTA MUDAR
EU TAMBÉM MUDO". Ele afirma quase que constantemente: "Se tivesse à
inteligência de fulano ou as riquezas de beltrano, tudo seria
diferente". Ele não consegue se ver como o gerente das circunstâncias da
sua própria vida.
Por quê? Porque, o seu olhar não está
voltado para si mas para o outro. Kierkegaard afirma: "ninguém pode
ver-se a si próprio num espelho, sem se conhecer previamente, caso
contrário não é ver-se, mas apenas ver alguém”.
É disso que o homem natural se desesperado, de si mesmo.
Embora a grande maioria dos seres humanos permaneça na “periferia de si
mesmo”, acreditando que a existência consiste em buscar o prazer e
evitar a dor, chega um momento na vida de todos nós que se descobre que a
vida não é apenas isso.
A Ação do Espírito Santo sobre nossas
vidas... É disso que o homem natural se sente desesperado, de si mesmo.
Segundo Deus, todos são indesculpáveis, pois a consciência do erro, do
pecado, da queda, está por demais arraigada a vida do homem natural, de
modo que este se desespera para a perdição, pelo fato não estar
consciente do seu eu Temporalidade e Eternidade, num mesmo ser, deixando
que o que é temporal guie sua vida, e por fim quando tomar ciência da
verdade maior por detrás dos dias terrestres, só lhe restará uma
consciência desesperada acusando-o por toda a eternidade, como um verme
imortal e fogo inextinguível a consumi-lo em seus próprios pensamentos
que nunca o deixaram pela eternidade, de eternidade em eternidade.
A Doença Mortal é um mal cujo fim gera a morte... Não a morte conhecida
em partes pelo homem natura e temida por ele, mas a morte conhecida
pelo cristão, todavia, infinitamente superior ao conceito de morte
estabelecido pelo homem natural, morrendo para a eternidade, de
eternidade em eternidade..
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